No artigo, Norberto Chadad, presidente da Thomas Case, aborda a importância de compreender e desmistificar a saúde mental, especialmente no contexto profissional. Ele destaca como o preconceito em torno do tema impede muitas pessoas de buscarem apoio e ressalta que o bem-estar emocional é essencial para um desempenho saudável no trabalho. Confira!
Ainda há um equívoco persistente em nossa sociedade: a ideia de que problemas de saúde mental são algo incomum ou motivo de estigma. Esse preconceito faz com que muitas pessoas relutem em admitir que podem estar enfrentando desafios emocionais e evita que busquem apoio profissional.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como "um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade". Essa definição sugere, de forma implícita, que ninguém é completamente saudável. Isso porque a antropologia já demonstrou que os elementos que compõem um indivíduo (como corpo, espírito, crenças e identidade) variam de cultura para cultura, recebendo diferentes valores em cada uma delas. Assim, pode-se interpretar que a saúde plena é um ideal inatingível, o que nos leva a refletir sobre o conceito de saúde mental.
Explico: Estamos vivendo um período pós-pandemia, um evento de enorme impacto social. Tudo indica que a alienação causada pelo isolamento, somada à frustração do trabalho remoto e a outros descontentamentos, gerou uma variedade de sintomas psicossomáticos. Esses sintomas - como mau humor, irritabilidade, lapsos de memória e desânimo - podem estar associados ao bem-estar emocional. Embora possam surgir por diversos fatores do dia a dia, quando persistem, podem ser um indicativo de que é hora de buscar apoio para compreender melhor sua origem.
Os condicionantes psicológicos são importantes para identificar um desequilíbrio que resulta em mau desempenho profissional. São, principalmente, a incapacidade - temporária ou permanente - de gerir pensamentos, emoções e comportamentos.
Sentimentos de frustração no ambiente de trabalho são normais, e todos enfrentam desafios em suas interações profissionais. No entanto, quando as queixas se tornam frequentes e afetam a forma como nos relacionamos com os outros, pode ser um sinal de que algo precisa ser ajustado - seja na forma como lidamos com as dificuldades ou no próprio ambiente organizacional.
Outro fator que pode prejudicar a saúde mental é a obsessão. Buscar crescimento financeiro é legítimo e necessário, mas quando o foco se restringe exclusivamente aos ganhos materiais, vale a pena refletir sobre outros aspectos da vida profissional, como realização, aprendizado e relacionamentos no trabalho. O equilíbrio entre esses fatores contribui para um bem-estar mais duradouro. Isso, sim, é saudável para o seu emocional e, consequentemente, para a sua saúde mental.
Agora, vejamos o caso da geração Z, composta por pessoas nascidas entre 1995 e 2010, sobre as quais muito se tem falado. Essa geração cresceu em meio à revolução digital, com a internet e as redes sociais moldando suas experiências e visões de mundo.
Essa geração se destaca por ter uma relação diferente com o tempo - não mais sequencial, mas paralela. Isso significa que veem a realidade como simultânea, o que as leva a acreditar que podem realizar várias atividades ao mesmo tempo.
A geração Z foi a primeira a ser educada de modo diverso ao das gerações anteriores, pois já nasceu num contexto 100% digital e, portanto, a primeira a entrar no mercado de trabalho com esse diferencial. Ela se caracteriza por reunir pessoas sobre as quais se pode dizer que sejam consideradas:
- Hiperconectividade: São capazes de criar e manter diversas conexões em um universo digital amplo, o que pode fazer com que, às vezes, priorizem interações virtuais em detrimento das presenciais. No entanto, essa habilidade também reflete sua adaptabilidade a novas formas de comunicação.
- Agilidade: O uso de tecnologia imprime versatilidade e multifuncionalidade a essa geração. Eles têm facilidade para se adaptar e desempenhar diferentes papéis, funcionando como um "coringa", que muda de valor e função conforme o contexto.
- Individualismo: Valorizam a independência e a autossuficiência, o que pode ser interpretado como uma forte busca por autonomia. Essa característica, muitas vezes, está ligada ao desejo de ter mais controle sobre suas próprias escolhas e ao modo como enxergamos sua trajetória profissional e pessoal.
- Ativismo: Engajam-se em causas sociais, culturais e ambientais, motivados por um desejo de transformar a realidade. São tolerantes e descolados, mas também questionadores e inconformados com situações que, para eles, poderiam ser diferentes.
Entender essa geração é essencial para evitar ou mitigar conflitos, tanto no ambiente profissional quanto pessoal.
Por fim, se você parar por um momento para observar como suas próprias frustrações - como no exemplo citado - estão interferindo no seu trabalho, pode perceber que talvez não esteja em um estado de completo bem-estar mental. Isso significa que pode estar enfrentando um problema de saúde mental.
Não hesite em buscar ajuda. Procure um terapeuta, um psicólogo ou até um amigo de confiança. Eliminar as frustrações é um dos caminhos mais eficazes para renovar sua energia, melhorar o bem-estar e, consequentemente, realizar seu trabalho de forma mais eficiente.
/. |
![]() |
Norberto Chadad, presidente da Thomas Case & Associados, é Engenheiro Metalúrgico formado pelo Mackenzie, Economista pela FGV e Doutor em Alumínio pela Escola Politécnica da USP.